No Silêncio da Terra

No silêncio da terra. 
Onde ser é estar. 
A sombra se inclina. 
Habito dentro da grande pedra de água e sol. 
Respiro sem o saber, respiro a terra. 
Um intervalo de suavidade ardente e longa. 
Sem adormecer no sono verde. 
Afundo-me, sereno, 
flor ou folha sobre folha abrindo-se, 
respirando-me, 
flectindo-me no intervalo aberto. 
Não sei se principio. 
Um rosto se desfaz, 
um sabor ao fundo da água ou da terra, 
o fogo único consumindo em ar. 
Eis o lugar em que o centro se abre 
ou a lisa permanência clara, 
abandono igual ao puro ombro 
em que nada se diz e no silêncio 
se une a boca ao espaço. 
Pedra harmoniosa do abrigo simples, 
lúcido, unido, silencioso umbigo do ar. 
Aí o teu corpo renasce à flor da terra. 
Tudo principia. 

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