O construtor é um homem vazio, como todos os homens
O construtor é um homem vazio, como todos os homens, mas a maioria destes não o sabe. Esse vazio irredutível através de todas as situações da existência subjaz à paixão e ao desejo, ao prazer e à alegria, à comunicação e à festa. O conhecimento desse vazio é a percepção da realidade fundamental, aparentemente adversa mas constitutiva da subjectividade humana. A sabedoria do construtor reside em não tentar preencher esse vazio, em deixá-lo ser na sua neutralidade e na sua ignorância fértil. No seu silêncio povoado pelo pólen da construção futura, a divindade é o corpo vivo de uma chama ténue, de uma pureza inicial. A construção principia aí, ainda antes que o construtor coloque uma pedra sobre outra. A abolição das imagens mentais, realizada espontaneamente, permite essa espécie de plenitude do vazio que é a condição primeira da construção da obra. O construtor sabe que o ar que respira, então, é o do próprio deus que ele irá construir. A primeira impulsão construtiva nasce da ondulação infinitamente tranquila desse vazio inicial. Mas, antes que o primeiro gesto construtivo se eleve, a concha do sono fecha-se sobre esse vazio de uma pura e total integridade. É preciso então combater o sono e, ao mesmo tempo, reintegrá-lo na construção da obra, para que a matéria inanimada se confunda com a matéria viva do corpo e da palavra. O reino vegetal é, igualmente, importante, para a transmutação originária que a construção opera. Assim, a construção é a actividade unificadora do sono e da vigília, do silêncio e da palavra, da vida animal e vegetal e da matéria inanimada. A verdade da construção é a liberdade plena em que todas as barreiras são abolidas e a realidade do ser aparece despojada de todas as crenças e descrenças, de todos os discursos, de todo o conhecimento redutor.
Mesmo na actividade construtiva, o deixar ser é o princípio da liberdade criadora que se orienta para a nudez do espaço inicial e para a integridade do ser inseparável do vazio. Assim, ao longo da construção, a liberdade exerce-se como um não esforço e como uma percepção aberta sem conflitos, entregue à ondulação unânime do Uno.
Mesmo na actividade construtiva, o deixar ser é o princípio da liberdade criadora que se orienta para a nudez do espaço inicial e para a integridade do ser inseparável do vazio. Assim, ao longo da construção, a liberdade exerce-se como um não esforço e como uma percepção aberta sem conflitos, entregue à ondulação unânime do Uno.
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