A finalidade da construção não é a obra acabada

A finalidade da construção não é a obra acabada para ser habitada finalmente na tranquilidade de um repouso merecido.
O gesto construtivo é um fim em si mesmo, porque é um modo de abrir e habitar o espaço da construção. A obra nunca será uma propriedade mas sim a actividade incessante de um operário que se constroi a si mesmo em cada gesto construtivo.
A matéria obscura e a matéria diurna reúnem-se num gesto inovador que se repercute no construtor amante. A realidade aparece agora à luz desse gesto amoroso e ingénuo
que é como um feixe de centelhas que se curva, se eleva e se abate sobre a pedra e a modela tornando-a um astro do instante criativo. Graças a esta acção construtiva, a opacidade da existência é integrada pelo processo construtivo. O núcleo deste é sempre um ponto negro e as suas margens confinam com o silêncio do impronunciável. O gesto construtivo não suprime ou elide o negativo, mas o seu ímpeto inadiável e a sua verticalidade erigem-se sobre o fundo negro da existência e criam o horizonte das possibilidades iniciais da construção humana.

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