Ouço o galope surdo do cavalo do sangue

Ouço o galope surdo do cavalo do sangue
através do silêncio de uma montanha vazia
Estarei vivo ainda? O meu pulso é tão ténue
Sou alguém que perdeu o musgo fértil de uma estrela
Sou ainda um felino com a boca fulminada
Quero converter-me numa serpente de sal
para adormecer no umbigo de uma mulher de quartzo
Sou alguém que quer criar a euritmia nupcial
com o sémen verde do seu sexo de argila
Inclino-me para a clareira vazia para purificar o meu delírio
e encontar as armas vegetais as armas nuas
entre diademas de areia e constelações de líquenes
Sigo as imagens da água na sua monótona fluidez
num ardor de silêncios de ténues florescências
e as minhas palavras tremem como arcos de água
e o meu pulso treme como o pulso de um país
que de fragilidade em fragilidade vai singrando
rumo à linha alta do renovo
Sinto o bafo de uma boca amante
de um rosto de olhos claros de pastora
e o fogo de oiro do seu sorriso aéreo
de uma lealdade fluida e inicial
É o espaço é o horizonte é a estrela branca
é um arbusto selvagem rutilante
é uma rapariga numa torre de silêncio
é uma amendoeira num circulo vazio
Todas as imagens se reúnem numa gota de água
e é aí que eu nasço sobre o seio da terra
para descer para adorar com o sémen e o suor
a nudez de um corpo de flecha
entregue à sua vocação aérea mas fixo
nas suas espessas vértebras de argila

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